Tecnologia

Uma em cada cinco startups do Brasil usa ou vende IA, aponta estudo

Mapeamento da Sling Hub, obtido com exclusividade por Época NEGÓCIOS, aponta que as startups que trabalham com IA já estão em todas as regiões do país, mas mais concentradas no Sudeste e Sul

Os avanços da Inteligência Artificial ultrapassam as barreiras das big techs e das companhias de grande porte, para integrar também o ecossistema de startups. O segmento tem se destacado tanto no uso da tecnologia quanto na oferta de soluções para outros empreendimentos, colaborando para a expansão do recurso tecnológico no Brasil e para o fortalecimento do próprio ecossistema.

As startups que resolveram apostar na IA em seus negócios estão espalhadas por todo o Brasil, de acordo com a Sling Hub, plataforma de inteligência de dados do ecossistema de startups da América Latina. Conforme o levantamento, obtido com exclusividade por Época NEGÓCIOS, o país já conta com 3.152 empresas do gênero, que dizem aplicar inteligência artificial no seu produto final ou em sua atividade – quase uma em cada cinco startups.

“Das 16.193 startups brasileiras ativas mapeadas pela plataforma, 19% usam ou vendem IA”, afirma Maria Miranda, head da equipe de Dados e COO da Sling Hub.

A região de destaque é o Sudeste, onde se concentram 2.017 dessas startups. Em segundo lugar, aparece a região Sul (617), seguida pelo Nordeste (187). O Centro-Oeste e o Norte são menos expressivos numericamente no segmento, com 101 e 33 startups com IA, respectivamente. Os números dão um panorama da distribuição dessas startups pelo Brasil, mas ainda podem ter ajustes, pois 197 empresas não divulgaram com precisão a região do país em que estão localizadas, segundo a Sling Hub.

Novos produtos e empresas
Localizada na região de maior destaque, a Fintalk é um dos exemplos de startup que aplica a IA no seu modelo de negócios. O empreendimento, que fica em São Paulo, foi fundado em 2019 pelo engenheiro Luiz Lobo, e oferece soluções em IA generativa para conectar as empresas aos seus clientes. A escolha pela IA vem da experiência pessoal com a tecnologia e, segundo ele, foi uma escolha acertada.

“Nós usamos IA já faz sete anos e os resultados são espetaculares, seja por um lado para aumento de venda, seja por outro para retenção de clientes”, comenta. “Tanto é que decidimos criar uma companhia, quatro anos atrás, especificamente para automatizar de forma humanizada a conversa entre empresas e clientes, e temos obtido um sucesso bastante grande”.

Dificuldades e oportunidades no Nordeste
Na outra ponta, o movimento é semelhante. William Soares Rocha fundou, em 2020, na capital da Bahia, a Hive Computer Vision, que faz parte do ecossistema Hub Salvador. A startup nordestina desenvolveu a Megan, uma assistente de IA com visão computacional capaz de analisar e monitorar ambientes em tempo real. O mecanismo já tem sido adotado por empresas na região para sistemas de segurança. Para seu trabalho, Rocha buscou referências em filmes e jogos que passaram por sua vida, e afirma que empreender com IA no Nordeste tem desafios e oportunidades que se conectam.

“As dificuldades e as oportunidades curiosamente se complementam. Da mesma forma que você não tem muitas empresas de IA na região – o que faz com que tenha que trazer startups de outros locais -, isso faz com que a gente tenha um mercado maior, tenha mais quantidade de pessoas para serem alcançadas”, avalia.

Ele acredita também que, para ampliar o número de empresas com IA no local, é necessário que os empreendedores percebam que são capazes de criar tecnologia na região. “Existe ainda muito o pensamento de que só pode vir algo desse nível de fora, que não pode nascer aqui, e é o contrário. A gente vem provando que realmente pode acontecer”, afirma Rocha.

Do Brasil para o mundo com a IA
Além de atuar no Brasil, as startups estão conseguindo usar a inovação da IA para alcançar postos internacionais. É o caso da edutech StartSe, que foi criada no país pelo especialista em negócios Junior Borneli, em 2015, e hoje se intitula escola internacional para líderes. A empresa está presente em São Paulo, Vale do Silício, Miami, China, Israel e Portugal. A conexão com a tecnologia foi crucial para a internacionalização da empresa.

Para Borneli, todo o ecossistema se fortalece quando surge uma nova tecnologia, porque as empresas passam a ter as mesmas oportunidades. “No caso da StartSe, a IA nos ajudou de algumas formas. A gente criou cada vez mais ferramentas no nosso aplicativo e isso nos permitiu trazer muito mais pessoas para os nossos conteúdos”.

A startup também busca contribuir para que o conhecimento sobre a inovação possa chegar a outros líderes. “Criamos cursos focados no ensino de IA, sobre como colocar isso de fato nas empresas, como usar isso para geração de eficiência e novos produtos”, diz. “No processo de internacionalização, isso nos abre oportunidades” complementa.

Oportunidade para as pequenas empresas
O fato de a IA generativa ser uma tecnologia em ascensão faz com que empresas grandes e pequenas possam partir de uma linha de largada semelhante, avalia Alex Winetzki, especialista em IA e CEO da Woopi, empresa de IA do grupo Stefanini. Mas as startups acabam saindo na frente, diz ele: as empresas de pequeno porte têm como vantagem a flexibilidade e a capacidade de integração do novo aos seus produtos que as grandes não têm. Por isso, a IA tem uma capacidade de se consolidar e ganhar ainda mais terreno dentro dessas pequenas empresas.

“Quando a gente fala de startup na área de dados, na área de processamento de linguagem, chatbot, atendimento, telefonia, processamento de documentos, a gente está começando do zero. E se a gente está começando do zero, a gente está abrindo possibilidades de negócio e construção de soluções que não existiam antes”, explica. ”Então, para mim, uma das coisas fascinantes sobre essa tecnologia é que ela nos obriga a olhar para soluções de uma maneira diferente, mais ampla e mais ambiciosa. E é aí que as startups podem entrar”, avalia Winetzki.

Para Carolina Morandini, líder de Inovação Aberta e Ecossistema Latam da Accenture, a IA está contribuindo para o fortalecimento do ecossistema de startups no Brasil por ser parte fundamental de uma das tecnologias que impulsionam a inovação. “A IA pode ser uma grande aliada dessas pequenas empresas, não apenas na composição da solução embutida em seus produtos e serviços, mas também pode ajudar a automatizar processos e tarefas repetitivas, reduzir custos e aumentar sua própria eficiência”.

No entanto, ela pondera que há também desafios ao adotar essa tecnologia que precisam ser enfrentados pelo setor. Um dos principais é a falta de profissionais com experiência e conhecimento técnico especializado, assim como recursos financeiros para testar, criar modelos, implementar e processar em uma infraestrutura de hardware complexa e cara.

Desse modo, é necessário ter cautela ao escolher as tecnologias que se alinham melhor com cada empresa. “É importante lembrar que a IA não é uma solução mágica para todos os problemas, por isso é preciso avaliar cuidadosamente as necessidades da empresa e escolher as soluções mais adequadas”, orienta a especialista.

 

 

 

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